FALTA GENTE
Em nosso país, falta gente e sobram fichas, ou currículos – como queiram.
Escuto diariamente histórias sobre grandes mães e pais de família, jovens e adultos de grande responsabilidade, interesse e comprometimento que lutam por um emprego. Tudo que querem é uma oportunidade de trabalho para aprender e desabrochar seu talento. São pessoas de respeito, caráter e prezam valores como honestidade, família, solidariedade.
Vejo, também diariamente, profissionais com formação acadêmica de primeira linha, inteligentes, ambiciosos, bons de relacionamento, que têm tudo para ter um futuro brilhante jogar pela janela suas vidas por conta de um recibo de táxi com dez reais a mais.
Paradoxalmente, praticamente todas as empresas do setor de tecnologia têm oportunidades de trabalho em aberto. Sempre que encontro amigos do setor, a reclamação é unânime: faltam profissionais para vendas, atendimento, gestão, implantação, suporte técnico e operação de sistemas de informação.
Já dizia o mestre Peter Drucker: “não haverá países pobres, só ignorantes”. A tão falada sociedade do conhecimento já não é mais um ideal acadêmico, é uma realidade. E, em minha opinião, a ignorância a que se referia Drucker, não diz respeito somente ao conhecimento, mas também aos valores. Quem joga lixo na rua, quem para o carro fechando cruzamentos, quem suborna, corrompe, trapaceia, rouba e mata não é também um ignorante?
Dizem que os brasileiros formam um povo tolerante. Para mim, ignorância não é tolerância. Tolerar significar respeitar as diferenças dentro dos limites de um contrato social, ou seja, a lei.
Nós temos confundido criminalidade com tolerância. Forte, esta afirmação, não? Pois vejamos: cada crime é único. Por isto mesmo para cada categoria de crime há penalidades diferentes. Mesmo dentro de uma categoria de infração à lei há penalidades diferentes em função de circunstâncias. Por isto existe o julgamento. Mas, o objetivo das penalidades é evitar a ocorrência de crimes similares, seja pelo mesmo infrator, seja por outros – a partir do exemplo.
Um exemplo de nossa “tolerância” é usarmos termos como informalidade, caixa dois, recursos não contabilizados, meia nota, salário por fora, para traduzir um crime de sonegação fiscal. Assim nos acostumando aos crimes no trânsito, na economia, nas escolas, na televisão, nos jornais, nas invasões de propriedades, nas “manifestações”, nos jogos de futebol... Até termos alguém próximo de nós que se transforme em uma vítima da violência. Ora, se vamos tolerar, por exemplo, uma mãe estacionar em fila dupla na porta de uma escola porque há uma “boa causa”, vamos tolerar um pequeno furto, um suborno, e assim vai. Se nós toleramos tudo, por que tanta lei no Brasil? Se nós somos os infratores, testemunhas e juízes, para que judiciário?
Caminhamos para uma sociedade injusta com todos. A grande maioria das pessoas acredita mesmo que só há desonestos na política, nas policias, no meio empresarial, na justiça e nos órgãos públicos. E com esta crença, o povo espera. Espera que um dia todos estes elementos quase mitológicos encontrem o bem e, só assim, o Brasil se tornará um país justo.
Minha forma de ver a realidade é diferente. Acho que quem é honesto é. Independentemente do contexto. Não dá para justificar a corrupção, o suborno, a sonegação, o furto, o roubo, os crimes de trânsito, nem homicídios por questões econômicas, sociais, ou seja lá o que for.
Conheço muita gente honesta. Empresários, empregados, funcionários públicos, policiais civis, militares, juizes, promotores. Gente rica e gente pobre que têm caráter. Que não usam de artifícios racionais para justificar atitudes emocionais.
Mas... só honestidade não muda a história de ninguém. Nem das pessoas, nem do país. É preciso ter competência e conhecimento. Sem estudo não dá para analisar fatos e criar soluções. Criatividade e conhecimento andam juntos.
Fato é que o Brasil está mudando. O país honesto e competente está em guerra contra o país dos Gersons. Empresários, profissionais do setor privado, professores, das receitas, das polícias, do judiciário, do ministério público, das ONG´s, e de diversas entidades que querem uma vida melhor para todos estão, silenciosamente, lutando contra a turma do jeitinho. Se você é honesto e competente, pense. De alguma forma você está ajudando a acabar com a pilantragem neste país.
Ainda há muita gente que é apenas honesta. Para estes, um conselho: ler e estudar. Sem desculpas. Não espere um emprego, um curso, um treinamento, um vestibular, uma faculdade. Comece hoje e não pare. Leia. É 100% garantido. Você não se arrependerá.
Para os desonestos: a lei.