sábado, 28 de abril de 2007

FALTA GENTE



Em nosso país, falta gente e sobram fichas, ou currículos – como queiram.


Escuto diariamente histórias sobre grandes mães e pais de família, jovens e adultos de grande responsabilidade, interesse e comprometimento que lutam por um emprego. Tudo que querem é uma oportunidade de trabalho para aprender e desabrochar seu talento. São pessoas de respeito, caráter e prezam valores como honestidade, família, solidariedade.
Vejo, também diariamente, profissionais com formação acadêmica de primeira linha, inteligentes, ambiciosos, bons de relacionamento, que têm tudo para ter um futuro brilhante jogar pela janela suas vidas por conta de um recibo de táxi com dez reais a mais.
Paradoxalmente, praticamente todas as empresas do setor de tecnologia têm oportunidades de trabalho em aberto. Sempre que encontro amigos do setor, a reclamação é unânime: faltam profissionais para vendas, atendimento, gestão, implantação, suporte técnico e operação de sistemas de informação.
Já dizia o mestre Peter Drucker: “não haverá países pobres, só ignorantes”. A tão falada sociedade do conhecimento já não é mais um ideal acadêmico, é uma realidade. E, em minha opinião, a ignorância a que se referia Drucker, não diz respeito somente ao conhecimento, mas também aos valores. Quem joga lixo na rua, quem para o carro fechando cruzamentos, quem suborna, corrompe, trapaceia, rouba e mata não é também um ignorante?
Dizem que os brasileiros formam um povo tolerante. Para mim, ignorância não é tolerância. Tolerar significar respeitar as diferenças dentro dos limites de um contrato social, ou seja, a lei.
Nós temos confundido criminalidade com tolerância. Forte, esta afirmação, não? Pois vejamos: cada crime é único. Por isto mesmo para cada categoria de crime há penalidades diferentes. Mesmo dentro de uma categoria de infração à lei há penalidades diferentes em função de circunstâncias. Por isto existe o julgamento. Mas, o objetivo das penalidades é evitar a ocorrência de crimes similares, seja pelo mesmo infrator, seja por outros – a partir do exemplo.
Um exemplo de nossa “tolerância” é usarmos termos como informalidade, caixa dois, recursos não contabilizados, meia nota, salário por fora, para traduzir um crime de sonegação fiscal. Assim nos acostumando aos crimes no trânsito, na economia, nas escolas, na televisão, nos jornais, nas invasões de propriedades, nas “manifestações”, nos jogos de futebol... Até termos alguém próximo de nós que se transforme em uma vítima da violência. Ora, se vamos tolerar, por exemplo, uma mãe estacionar em fila dupla na porta de uma escola porque há uma “boa causa”, vamos tolerar um pequeno furto, um suborno, e assim vai. Se nós toleramos tudo, por que tanta lei no Brasil? Se nós somos os infratores, testemunhas e juízes, para que judiciário?
Caminhamos para uma sociedade injusta com todos. A grande maioria das pessoas acredita mesmo que só há desonestos na política, nas policias, no meio empresarial, na justiça e nos órgãos públicos. E com esta crença, o povo espera. Espera que um dia todos estes elementos quase mitológicos encontrem o bem e, só assim, o Brasil se tornará um país justo.
Minha forma de ver a realidade é diferente. Acho que quem é honesto é. Independentemente do contexto. Não dá para justificar a corrupção, o suborno, a sonegação, o furto, o roubo, os crimes de trânsito, nem homicídios por questões econômicas, sociais, ou seja lá o que for.
Conheço muita gente honesta. Empresários, empregados, funcionários públicos, policiais civis, militares, juizes, promotores. Gente rica e gente pobre que têm caráter. Que não usam de artifícios racionais para justificar atitudes emocionais.
Mas... só honestidade não muda a história de ninguém. Nem das pessoas, nem do país. É preciso ter competência e conhecimento. Sem estudo não dá para analisar fatos e criar soluções. Criatividade e conhecimento andam juntos.
Fato é que o Brasil está mudando. O país honesto e competente está em guerra contra o país dos Gersons. Empresários, profissionais do setor privado, professores, das receitas, das polícias, do judiciário, do ministério público, das ONG´s, e de diversas entidades que querem uma vida melhor para todos estão, silenciosamente, lutando contra a turma do jeitinho. Se você é honesto e competente, pense. De alguma forma você está ajudando a acabar com a pilantragem neste país.
Ainda há muita gente que é apenas honesta. Para estes, um conselho: ler e estudar. Sem desculpas. Não espere um emprego, um curso, um treinamento, um vestibular, uma faculdade. Comece hoje e não pare. Leia. É 100% garantido. Você não se arrependerá.
Para os desonestos: a lei.

sábado, 14 de abril de 2007

CONHECIMENTO E DESENVOLVIMENTO




“A imaginação é mais importante que o conhecimento.” (Albert Einstein)

Não precisamos ser gênios para perceber que já estamos vivendo Era da Informação onde tecnologia suporta grandes mudanças em nosso cotidiano. Quanto mais veloz é o avanço tecnológico, maior é a separação entre os “incluídos” e os “excluídos”.
A tecnologia catalisa a democratização da informação e da renda. Existem ONG’s, universidades e empresas ofertando, através da Internet, meios interessantes de capacitação. Através de cursos à distância pessoas podem estudar e se atualizar de forma rápida e barata.
Contudo, sem a formação a informação pouco valor, pois a capacidade de análise e síntese é imprescindível para a criação de idéias. Na realidade, muitas empresas não perceberam que seus concorrentes podem adquirir as mesmas tecnologias e metodologias. A formação de pessoas é raramente encarada com seriedade pelos gestores privados ou públicos. Por outro lado, o perfil humano ideal: pró-ativo, capacitado, maduro, questionador e, sobretudo, criativo está cada vez mais escasso, pois sua formação é uma tarefa de longo prazo.
Alguns países perceberam que sua riqueza depende da educação, outros crêem que a importação de tecnologia resolverá seus problemas. Os primeiros investem em educação e incentivam o setor privado a utilizar de novas formas de educação, usando a tecnologia para democratizar o ensino.
No Brasil, a concentração de riquezas tende a se acentuar, pois a criação de valor é determinada pela geração de conhecimento. É insensato esperar que o Governo distribua capacitação como ele o faz com cestas básicas. O caminho para o crescimento começa pela iniciativa individual.
Cabe a cada pessoa planejar e executar seu projeto de desenvolvimento, considerando não apenas a tecnologia, mas, fundamentalmente, seu crescimento intelectual e emocional. Cabe às organizações e ao Estado apoiar a realização deste plano facilitando o acesso das pessoas aos recursos.
Assim, um modelo eficaz de desenvolvimento deve ser fundamentado em três pilares: formação, informação e tecnologia. Estes três elementos são complementares entre si. Isoladamente têm pouco valor. Somente sua fusão é capaz de gerar a sinergia necessária para as pessoas, empresas e para o país conquistarem vantagens competitivas sustentáveis, seja através da diferenciação, seja através do aumento da produtividade.

MICRO EMPRESAS




As micro e pequenas empresas (MPE´s) são responsáveis por 60%
dos empregos dos brasileiros, segundo o IBGE.




Impressionante, não é? Mas em 2005 de cada 10 empresas abertas, 7 fecharam. 94% das que abriram eram micro e pequenas. 96% das que fecharam eram desta categoria. As pequenas não estão agüentando o peso da carga tributaria, da burocracia, da concorrência desleal, da instabilidade jurídica, da corrupção, da falta de pessoal capacitado e dos juros altos.
Mas, e os proprietários destas empresas que fecham? Como eles sobrevivem? Boa parte não consegue obter um emprego em empresas maiores. Assim, eles continuam a operar na informalidade ou vivem de “bicos”. Ambas opções contribuem negativamente para o pais pois aumentam a informalidade da economia brasileira.
No Brasil, 98% das pequenas empresas fazem parte do setor informal, o equivalente a 10,335 milhões de empresas, segundo pesquisa do IBGE de 2003. A empresa pode até ter CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), mas, se não tiver sistema de contabilidade próprio, é informal. Este fenômeno se manifesta de várias formas: contratação irregular de trabalhadores, compra e venda de produtos sem nota, falsificação de mercadorias, violação de direitos autorais, adulteração de produtos e sonegação fiscal.
Para garantir o sustento do proprietário, de sua família e a renda de seus trabalhadores uma empresa informal não paga impostos, não segue as leis, pirateia produtos, não contribui para previdência e, eventualmente, suborna e corrompe. Enfim, resolve o problema que o Estado criou gerando mais problemas para o próprio Estado.
Recentemente, uma das principais executivas da Disney afirmou que sua empresa encara a pirataria com um modelo de negócios. Significa que empresas piratas são concorrentes diretos, e a Disney definiu uma estratégia de combate a eles sem esperar que o governo atue para conter a informalidade.
Do ponto de vista do empreendedor, a informalidade é modelo de negócios viável, considerando apenas suas necessidades de sobrevivência. Contudo é um modelo completamente inviável e perverso para a sociedade. É uma verdadeira bomba-relógio que já vem mostrando seus efeitos devastadores.
O Estado vem aumentando a carga tributária para sustentar a previdência e os gastos com a máquina administrativa gigantesca. Há um certo consenso que o Estado gasta mal e gere precariamente seus recursos, mas mesmo se isto não fosse verdade, não haveria como reduzir a carga tributaria individual drasticamente se não for aumentada a base de contribuintes. Este é apenas um dos efeitos perversos do modelo econômico baseado na informalidade. Certamente há outros: aumento da corrupção e do crime; pouca aplicabilidade dos direitos do cidadão e, sem dúvida, falta do sentimento de nação.
Não há como sentirmos orgulho de nosso país, se nós vivemos sob a “Lei de Gerson”, onde o importante é “levar vantagem em tudo, certo?”. Em geral, o brasileiro só sente amor pelo país em momentos pesarosos, ou seja, nas catástrofes, ou em uma competição esportiva. Aí sim, nos vestimos de verde e amarelo, cantamos (ou tentamos cantar) o Hino Nacional e nos sentimos um povo.
Desta forma, não vejo como fazer nosso país crescer de verdade e de forma consistente somente com projetos faraônicos. Não adianta o Estado investir pesadamente em infra-estrutura construindo estradas, aeroportos, usinas, portos. Estes projetos são importantes, mas não resolvem o problema estrutural da sociedade brasileira. As pequenas empresas que nascerem para aproveitar as oportunidades decorrentes destes projetos fecharão as portas em alguns meses.
A forma que enxergo para fazer do Brasil uma nação prospera é reduzir os fatores que impedem que as micro e pequenas empresas tenham condições de se tornarem sustentáveis: Ou seja, o Brasil só será viável se as seguintes barreiras ao desenvolvimento saudável das MPE´s forem eliminadas:
1) Distorção tributária que onera quem produz honestamente. Além de a carga tributária ser absurdamente alta e crescente (quase 40% do PIB), ela é um dos principais fomentadores da informalidade. O governo abocanha entre 42% e 82% do salário líquido dos empregados. No Brasil, quase 70% da arrecadação vem de tributos sobre salários, produção e consumo. Comparativamente, nos EUA, a relação é inversa: mais de 72% da arrecadação vem da renda e outras fontes desonerando a produção, o emprego e o consumo.
2) Burocracia cuja principal origem está no corporativismo e ineficiência das: instituições públicas em todos os níveis e em todos os poderes. Enquanto nos Estados Unidos leva-se 4 dias para abrir um negócio, no Brasil são gastos 152. Três vezes mais que a média mundial. Outros exemplos não faltam. Quem já precisou de uma certidão, um documento, um serviço público ou uma simples consulta sentiu na pele o peso da burocracia estatal.
3) Insegurança jurídica que nos leva a uma enorme sensação de impunidade decorrente de uma legislação confusa, complexa, instável e, arrisco aqui um, inexeqüível. No período de 1988 a 2006 sofremos com 3.510.804 alterações na legislação, sendo que apenas 12% delas ainda estão em vigor! Literalmente dormimos com um conjunto de leis válidas e acordamos com outro. Só da ordem tributária foram quase 230 mil novas normas contendo 2,6 milhões de artigos, 6 milhões de parágrafos, 19 milhões de incisos e 2,5 milhões de alíneas. Haja memória! Uma possível causa desta lambança jurídica pode ser o fato de que a maioria destas alterações é realizada através de Medidas Provisórias, Decretos e Normas Complementares. Ou seja, normas editadas às pressas, sem debate e com objetivo de atender a interesses momentâneos.
4) Indisponibilidade de fontes de financiamento que é originada dos juros indecorosos, e da pouca competição no setor financeiro. Para MPE´s, formais ou não, a taxa SELIC é um Saci-Pererê, uma lenda. Estes empreendedores, quando têm acesso a algum tipo de crédito pagam entre 80% a 160% ao ano. Há algum negócio lícito que pague o custo deste capital?
5) Escassez de capital humano decorrente do despreparo das pessoas. No Brasil, poucos são os que têm bons conhecimentos de matemática e português. Disciplinas indispensáveis para o empreendedorismo bem sucedido. Não pelo conhecimento propriamente dito, mas pelo desenvolvimento intelectual e emocional que tais assuntos despertam nas pessoas. A matemática alimenta o raciocínio lógico e analítico, a língua portuguesa desperta as habilidades como comunicação e compreensão. Obviamente que os profissionais precisam de conhecimentos técnicos e científicos, mas a ineficiência geral do Brasil, inclusive do próprio processo de aprendizado é fruto do despreparo dos alunos nos primeiros anos de escola.
A meu ver, as ações realizadas pelo Estado que não têm como objetivo criar sustentabilidade para MPEs são apenas analgésicos para tratar o nosso câncer. Não dá para entorpecer o país enquanto a doença se alastra. As políticas públicas baseadas no “Panis et circus” levarão nosso país ao estágio terminal.