quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Heróis da vida real


É difícil ler o texto do Jonatas sem se emocionar....

Tentei escrever comentários sobre o texto. Mas tudo ficou medíocre em face aos relatos abaixo.


Ao meu amigo e sua família, um abraço do tamanho da Internet.

"23/10/2007 - Aos heróis que salvaram a vida do meu filho

Por mais 10s ou 20s seria tarde demais, tragédia. Foi no último sábado, em Salvador. Pelo segundo dia meu filho curtia a piscina do hotel. Aos 7 anos. Desde bebê freqüenta escolas de natação. Ele e mais 2 crianças brincavam de heróis sem saber que a brincadeira estava a prestes de virar verdade.

Meu filho foi ao fundo pela enésima vez. Perto do ralo de fundo a 1,80m de profundidade. Piscina grande. Ralo ligado a uma bomba em pleno dia (um pecado) e sem tela de proteção (um absurdo). O braço direito foi sugado até o ombro. Daí para a frente ele só teria em torno de 60 segundos de vida. Preso e sem conseguir tirar o braço numa força ingrata contra um poderosa bomba de sucção meu filho ficou lá no fundo a mercê de um super herói ou de um milagre.

Ganhou os dois.

Seu amiguinho recém feito no hotel viu a hora exata que seu braço foi sugado. Eu trabalhava no salão de eventos no prédio ao lado. Minha esposa estava dentro d’água a alguns metros dele. É tudo muito rápido. Rápido demais. Segundos de vida, apenas isso. Esta era a janela de tempo que o melhor dos amigos, que o meu herói, tinha pela frente.

O primeiro herói foi o meu filho. Com o braço preso até o ombro, a 1,80 m de profundidade, ele não desistiu, não se apavorou, não engoliu água. Assistiu já impotente ao amigo nadando lá em cima, sem saber que ele já partia em busca de socorro. Mas teve pensamentos incrivelmente reais e tristes para a sua idade. Pensou que ia morrer.

Rafa, o amigo de 6 anos, gritou para o pai, Maurício. Ele acreditou no filho e correu para a água. Simultaneamente outro Maurício também se atirava na água. Chegou antes e, sozinho não conseguiu vencer a força da bomba e meu filho seguiu preso. Ele subiu e em desespero gritou.

Renatinho, outro amiguinho, já havia alertado outro herói, Renato pai, que de roupa e talão de cheques se atirou na água.

Somente com a união de 3 homens adultos meu filho foi retirado do fundo de uma piscina, no fim de suas forças e de fôlego. Maurício fez boca a boca e meu filho seguiu vivo. Vivo e ileso.

Consciente.


Cheguei tarde. Me preparei em inúmeras situações nestes 7 anos para salvá-lo. Pânicos de pai.

Bicicleta, praia, outras dezenas de piscinas, facas, fogo, janelas. Mas quando meu filho mais precisou de mim eu não estava. Mas em meu lugar o mundo, deus ou o que queiram chamar colocou outros 3 pais para o Gustavo. + 2 crianças que tiveram a atitude de um homem, de um gigante. 2 crianças, uma de 6 e outra de 10, que tiveram atitude que o gerente do hotel não teve. De estender a mão, de ser amigo. 2 anjos da guarda que cercavam o meu filho.


Eu poderia fazer 2 coisas. Ou partir ao ataque contra o hotel ou gastar meu tempo para o bem abraçando os heróis do resto de minha vida. Optei pela segunda opção em busca da vida e reservei apenas o parágrafo abaixo para o hotel (depois o texto segue falando dos meus heróis).
Jamais uma piscina pode ter ralo de fundo ligado em horário de banho. E jamais, jamais pode ficar sem tela de proteção. É colocar seus hóspedes em risco e inúmeras tragédias já ocorreram por isso. Pior do que isso é a atitude do gerente do hotel que tentou culpar o meu filho por estar na “piscina de adulto” quando não havia nenhuma sinalização, nem barreira e quando a piscina em questão tinha área de 1,20 e de 1,80m. Meu filho nada e usa piscinas em todo o Brasil. Sua aula é numa “piscina de adulto”. Pior do que isso foi, apesar dos meus apelos, ninguém do hotel ter ido até o hospital conosco pelo menos para dar apoio, carona e etc.


Culparam meu filho, uma criança de 7 anos sugada por um buraco criminoso que fez precisar da força de 3 homens e deixou um braço roxo com muito trauma mas nenhuma fratura. Infelizmente vivemos neste hotel a síntese da evolução do mundo corporativo, onde o consumidor interessa apenas quando desembolsa o dinheiro. As pessoas não valem nada para as empresas que correm a buscar um culpado e a sumir quando algo dá errado. Burros, acima de tudo muito burros. Como consumidor eu queria apenas o bem estar do meu filho. Queria carinho segurança, o melhor hospital, quem sabe uma carona ? Não queria dinheiro. Recebi agressão, omissão de socorro (quando o pedi do hospital), preocupação com dinheiro.


Sou cliente do hotel há 4 anos e comigo talvez ele perca um evento inteiro anual e pelo menos uns 15 hóspedes que a tudo isso testemunharam. Para encerrar o parágrafo do mal é preciso dizer que entendo um funcionário desleixado ou incompetente deixar uma bomba ligada, mas não entendo uma empresa inteira estar tão preparada para fugir de uma responsabilidade para não perder dinheiro. Negar carinho e mão amiga a um consumidor que chegou perto da morte dentro de suas dependências. É a era da mediocridade e sinto muita pena das pessoas que convivem e se violentam trabalhando em empresas assim. Deveriam se envergonhar.


Mas agradeço de coração a covardia do gerente que, desafiado por mim, desapareceu quando voltei do hospital, pois o que jurei que faria a ele pelo telefone era pouco e talvez agora eu não estivesse aqui abraçado ao amigo mais lindo e perfeito do mundo. O hotel que me impressionava pelo tamanho e estrutura, agora impressiona pela frieza. Sob susto, ameaças e uma inteligência suspeita pagaram os incríveis R$ 1.654,00 de 6 horas de hospitalização (somente este episódio e este valor dariam uma coluna a parte). Se pendurar em aviões e passar anos em tribunais ou viver cada segundo ao lado do meu filho ? Ainda não decidimos...


Voltando aos heróis da minha vida. Incrível que o amiguinho Rafa tenha visto o momento do acidente. Que tenha alertado tão rápido o seu pai que rápido entrou na água. Que Renato tenha entrado de roupa, que o outro Maurício tenha ido pelo mesmo caminho. Que tenham feito um novo parto no meu filho arrancando-o de um líquido mortífero a tempo de não lhe furtar nem mesmo a consciência, quanto mais ter lhe salvado de seqüelas.

Meu filho foi meu super-homem, sozinho no escuro, no fundo de uma funda piscina segurando seu fôlego. Estas 3 crianças e estes 3 adultos fizeram cada milímetro em cada segundo do que deveriam fazer para salvar uma vida. A vida de um ser iluminado, perfeito, criança. Qualquer um deles a seu tempo se fizesse algo diferente poderia ser tarde demais. Foram heróis. Tinham provavelmente 10s e conseguiram.

Sou ateu. Ou era, ainda não sei. Há um discurso genial do Alec Baldwin como médico num filme em que, confrontado com a arrogância de se achar um Deus como médico, ele responde: “quando seus parentes estão no hospital entre a vida e a morte e vcs rezam não é para Deus que estão rezando é para mim, porque anos da minha vida passei acumulando conhecimento para salvar vidas”.


Bem, pode ter sido Deus. Não sei e respeito a crença de todos. Mas dar crédito a ele assim não é correto. Já vi homens travarem, vi homens serem mesquinhos, vi homens me traírem, vi homens fugirem e vi homens se aproveitarem. Mas o que percebi no sábado ? Conheci homens que não hesitaram como vi muitos fazerem e até naturalmente. Estes 3 homens se lançaram na salvação do meu filho como 3 flechas. Eles não só estenderam a mão. Eles abraçaram por trás o meu filho a quase 2 metros de profundidade, no momento mais decisivo de sua ainda pequena vida. Quando ele, mesmo em sua inocente infância, já tinha pensamentos que jamais deveria ter.


Arrancaram ele daquele buraco escuro e frio e trouxeram de volta à sua mãe. E para mim. Pai, pai e pai.


A única coisa que fiz, 1 hora antes, foi amarrar uma fita branca do Bom Fim no seu pequeno pulso, certificando-me de que ele faria 3 pedidos sem me contar. Justamente no pulso direito. 1 hora depois ele pedia por mim, desesperado. O que eu não faria para voltar no tempo e trocar de lugar com ele. Filho, o amor único. Pais e mães o sabem.


Rafa, 6 anos, Renatinho filho, Renato pai, Maurício e Maurício (eram 2 com suas esposas de nome Patrícia – feliz coincidência ?) e Gustavo, meu filho. Senti, falando com cada um de vocês o quanto tudo os marcou também. Soube por sua querida esposa que o Renato não dormiu, que acredita mesmo que sua viagem a Salvador tinha um propósito maior. Um dos Maurícios pude abraçar pessoalmente depois. O outro me fez um pedido muito emocionado. E lembro dos seus olhos molhados logo após. Que eu agradeça todos os dias a Deus porque a situação jogava muito contra o meu filho. Um milagre segundo ele.


Quero dizer uma coisa a vocês e quero que o maior número de pessoas leia.


Agradecerei a Deus. Fiz isso hoje, dia seguinte. Farei muitas vezes. O 20 de OUT ficou marcado. Mas mais do que a Deus agradecerei sempre a vocês. Este texto é para registrar a esperança. É para fazer o mínimo. Registrar o dia em que conheci seres humanos especiais, verdadeiros e reais super heróis. Capazes de, contra algumas probabilidades, salvar meu filho. Este texto poder ser piegas como somente eu poderia ser agora. Existem chavões como “mudar a nossa vida”. Mas acreditem-me. Tudo isso salienta o que venho escrevendo há muito. A necessidade de as empresas e a nossa sociedade voltar a se humanizar um pouco.


Lugar comum que a vida é frágil ? A maioria não sabe o quanto. Eu sei. No sábado sentimos o quão é tênue esta tal linha entre a vida e a morte.


Mas mais do que isso e ainda mais importante é que descobrimos, eu, meu filho e minha mulher, que existem super heróis. Eles moram em Vitória (ES), Vitória da Conquista (BA), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS). Rafael, Renatinho, Renato, Maurício e Maurício. E suas mulheres maravilhosas. Elas ajudaram e se emocionaram. Na Bahia de todos os santos que tanto amo não foram eles que salvaram meu filho, foram 3 heróis de fora e seus filhos.


Não vi vocês chegando nem saindo.

Não sei se voam. Não devem usar capa e máscara, não precisam.
Sei que tem família. E que ela se orgulhará de vocês. E que vocês tem fãs no sul do Brasil. E amigos. Serei grato. E torcerei para que as crianças de todo o Brasil tenham caras como vocês por perto quando uma empresa ou pessoas as colocarem em perigo. Farei também o meu melhor sempre.


Um beijo no coração. É hora de dormir abraçado na família. Graças a vocês.
Final Feliz.

P.S.1: Não mencionei o nome completo de ninguém para preservá-los.
P.S.2: Me desculpem se esqueci de alguém.
P.S.3: Meu filho tá 100%, apesar de um pouco assustado ainda. Já tínhamos outro hotel reservado para pequenas férias. Hoje ele passou o dia na piscina com outras crianças. UFA! Depois de checarmos ralos, piscinas e gerentes...
P.S.4: Meu obrigado a Adriana da Arteccom, organizadora do evento pelo apoio, amizade e compromisso. E ao Sandro, amigo baiano incansável que nos levou ao hospital e nos encheu de carinho de novo pela maravilhosa Bahia.
P.S.5: Pessoas que reforçam a verdade da vida. O que vale a pena não são as empresas mas as pessoas que temos a chance de conhecer, cativar e ganhar ao longo da Vida.
P.S.6.: Eu, minha esposa e o amigo Sandro saímos da Praia do Forte a tardinha com o mesmo modelo de camiseta. Uma linha da vida de monitor cardíaco com a frase “Smile, you are alive” embaixo.
P.S.7: Obrigado Lívia por tudo.
P.S.8: Gustavo do futuro (se os backup’s funcionarem e você estiver lendo agora). Jamais esqueça de estender a mão e ter atitude. Ter atitude é fazer o certo. Só isso. Na hora certa vc saberá.
P.S.9: Gerente e Hotel. Sei que é difícil mudar, mas pensem nas pessoas. Pensem em seus clientes como pessoas que confiam suas vidas a vocês. E por favor certifiquem-se de que jamais aquele ralo ficará aberto de novo.
P.S.10: Resolvi omitir o nome do hotel enquanto me asseguro de conseqüências jurídicas.
P.S.11: A sub-gerente que iniciou oferecendo apoio mostrou depois que sucumbiu a própria empresa. A tal era da mediocridade. Como é fácil sucumbir...
P.S.12: Desculpem o egoísmo, mas eu precisava escrever. Escrevo para que meus leitores chequem as piscinas, tenham cuidado com seus filhos. E eu precisava registrar o quanto eu sei que estas pessoas fizeram por uma vida. A do meu filho e da minha família. E, de certa forma, pela humanidade. Para mim pelo menos. Só não é inacreditável esta história graças a estes 3 homens e estas 3 crianças cuja dimensão é enorme. No momento minha esposa e filho dormem. Me falta compreensão do todo. Me resta, de certa forma egoísta, chorar mais um pouco. Pela felicidade que eu tenho de estar aqui. E pela felicidade, novos amigos, de nossas vidas terem se cruzado naquele sábado. Vou deitar, bem abraçado.




Jonatas Abbott é diretor de Comercial e Marketing da Dinamize, fotógrafo, idealizador do Papo de Primeira e autor de dois cases vencedores do Top de Marketing da ADVB, em 2003 e 2006.






Um comentário:

Cleber disse...

Oi meu nome é Juliana e só entrei no seu blog por acaso porque estava vendo quem tinha gostado do livro Caçador de Pipas. Quero só te dizer que fiquei emocionada com a história do seu menino e sei bem o que tu sentiu porque eu passei por algo semelhante quando vi meu filho que hj está com 13 anos, ser atropelado em frente a mim quando tinha somente 3 aninhos e eu não poder impedir, tenha certeza de que esses homens e crianças foram verdadeiros heróis, mas guiados por uma força maior, que cada um chama do que quiser, eu chamo de Deus e ele está sempre concosco, só nos resta decidir se o queremos como guia ou não. Algum tempo depois do atropelamento minhã irmã comprou um anjo e deu de presente pro meu filho, ele nunca tinha visto nada desse tipo antes, mas quando ele olhou para aquele anjo ele me disse: mamãe eu conheço esse homem, foi ele que quando o carro estava passando por cima de mim me disse para eu ficar abaixado que nada de mal ia acontecer, então me pergunto uma criança de 3 anos poderia inventar algo semelhante e manter essa história por mais 10 anos até os dias de hoje. Desculpe-me se fui invasiva no meu comentário sendo que nem o conheço, mas fico feliz por tu estar com sua família e que Deus continue a iluminá-los sempre. Se algum dia se interessar meu blog é esse http:/beforenowandafter.blogspot.com